sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Tuareg





Uma bonita entrevista com um tuareg. 

Víctor M. Amela entrevista Moussa Ag Assarid



- Não sei minha idade. Nasci no Deserto do Saara, sem documentos. 
- Nasci em um acampamento dos nômades tuaregs entre Timbuctu e Gao, ao norte de Mali. Fui pastor dos camelos, cabras, cordeiros e vacas de meu pai. Hoje estudo gestão na Universidade de Montpellier. 
- Estou solteiro. Defendo aos pastores tuaregs. Sou muçulmano, sem fanatismo.
- Que turbante bonito!
- É uma fina tela de algodão: permite tapar o rosto no deserto, e continuar a ver e respirar através dela. É de um azul belíssimo…
- Nós, os tuaregs, somos chamados de homens azuis por isso: o tecido solta alguma tinta e nossa pele adquire tons azulados.
- Como conseguem esse tom de azul anil?
- Com uma planta chamada índigo, mesclada com outros pigmentos naturais. Para os tuaregs o azul é a cor do mundo. 
- Porque?
- É a cor dominante: é a cor do céu, do teto de nossa casa.
- Quem são os tuaregs? 
- Tuareg significa “abandonados”, porque somos um velho povo nômade do deserto, solitários e orgulhosos. “Senhores do Deserto”, é como nos chamam. Nossa etnia é a amasigh (bérbere), e o nosso alfabeto, o tifinagh.


- Quantos são? Uns três milhões, e a maioria permanece nômade. Mas a população diminue. “É preciso que um povo desapareça, para que saibamos que ele existiu!”, apregoava um sábio. Eu luto para preservar esse povo.
- A que se dedicam? 
- Pastoreamos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio.
O deserto é realmente tão silencioso? - Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho.
Que recordações de sua infância você conserva com maior nitidez? 
- Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós as levamos onde há água e pasto… Assim fizeram meu bisavô, meu avô e meu pai… e eu. 
Não havia outra coisa no mundo além disso. E eu era muito feliz com isso.
De fato não parece muito estimulante…
- Mas é muito! Aos sete anos já deixam que você se afaste do acampamento para que aprenda coisas importantes: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e pelas estrelas… E a deixar-se levar pelo camelo, se você se perder. Ele te levará onde há água.
Saber isso é valioso, sem dúvida… 
Ali tudo é simples e profundo. Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor!
- Então esse mundo e aquele outro são muito diferentes, não?
- Ali cada pequena coisa nos proporciona felicidade. Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é!
- O que mais o chocou em sua primeira viagem à Europa?
- Ver as pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia. Me assustei, é claro!
- Eles apenas iam buscar suas malas… 
- Sim, era isso. Também vi cartazes de mulheres nuas.  Me perguntei: porque essa falta de respeito para com a mulher? 
Depois, no Íbis Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar…
- Que abundância! Que desperdício! Não?
- Todos os dias da minha vida consistiam em procurar água. Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa…
Tanto assim?
- Sim! No começo dos anos 90 houve uma grande seca. Morreram os animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim! Me contava histórias e ensinou-me a contá-las muito bem. Ela me ensinou a ser eu mesmo. 
O que aconteceu com você? 
- Convenci meu pai que me deixasse ir à escola. Quase todo dia caminhava 15km. Até que um dia o professor me arranjou um lugar para dormir e uma senhora me dava o que comer, quando eu passava em frente à sua casa. 
Entendi que essa ajuda vinha de minha mãe.


De onde surgiu esse desejo de estudar? 
- Uns dois anos antes, havia passado pelo nosso acampamento o rally Paris-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro de sua mochila. Eu o apanhei e lhe entreguei. Ela me deu o livro de presente. Era um exemplar do Pequeno Príncipe e eu prometi a mim mesmo que um dia conseguiria lê-lo. 
- E conseguiu. 
Sim! Foi assim que consegui uma bolsa de estudos na França.
- Um Tuareg na universidade! 
- Ah, o que mais sinto falta aqui é o leite de camela... E o calor da fogueira, e de andar com os pés descalços na areia quente. 
Lá nós olhamos as estrelas todas as noites e cada estrela é diferente das outras, como cada cabra é diferente.
Aqui, à noite, você olha para TV.
Sim! E o que você acha pior aqui? 
- Vocês tem tudo, mas não acham suficiente. Vocês se queixam. Na França passam a vida reclamando! Aprisionam-se pelo resto da vida a uma dívida bancária, num desejo de possuir tudo rapidamente ... 
No deserto não há congestionamentos, e você sabe por quê? Porque lá ninguém quer ultrapassar ninguém!
- Conte-me um momento de extrema felicidade no seu deserto distante.
- Todo dia, duas horas antes do pôr do sol, a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, e os homens e os animais lentamente voltam para o acampamento e seus perfis ficam recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde... 
- Fascinante, na verdade... - É um momento mágico ... 
Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver. Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição ...
- A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura...
- Que paz! 
Aquí vocês tem relógio…
… lá temos tempo. 

NÓS TEMOS O RELÓGIO, ELES TEM O TEMPO!



NESSA NOSSA VIDA MARCADA PELO RELÓGIO, QUANTAS VEZES POR DIA NOS FALTA “O TEMPO”?

O tempo é como um rio.
Você não pode tocar a mesma água duas vezes, porque a água que passou, não passará de novo.
Aproveite cada momento da vida... 
ENCONTRE TEMPO PARA VIVER!


Se você vive dizendo o quanto está ocupado, você nunca estará livre.
Se você vive dizendo que não tem tempo, você nunca terá tempo.
Se você vive protelando tudo para amanhã, esse amanhã nunca chegará.

Aproveite cada momento da vida ... O tempo não espera por ninguém, nem volta para trás.




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